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VESTIBULAR UFF/1997 Língua Portuguesa e Literatura Brasileira - Grupo K - 2ª Etapa |
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Como se constrói uma identidade social ? Como um povo se transforma em Brasil ? A pergunta, na sua discreta singeleza, permite descobrir algo muito importante. É que no meio de uma multidão de experiências dadas a todos os homens e sociedades, algumas necessárias à própria sobrevivência, como comer, dormir, morrer, reproduzir-se etc. , outras acidentais ou 5 superficiais: históricas, para ser mais preciso - o Brasil foi descoberto por portugueses e não por chineses, a geografia do Brasil tem certas características como as montanhas na costa do Centro-Sul, sofremos pressão de certas potências européias e não de outras, falamos português e não francês, a família real transferiu-se para o Brasil no início do século XIX etc. Cada sociedade (e cada ser humano) apenas se utiliza de um número limitado de "coisas" (e de experiências) para 10 construir-se como algo único, maravilhoso, divino e "legal" ... Sei, então, que sou brasileiro e não norte-americano, porque gosto de comer feijoada e não hambúrguer; porque sou menos receptivo a coisas de outros países, sobretudo costumes e idéias; porque tenho um agudo sentido de ridículo para roupas, gestos e relações sociais; porque vivo no Rio de Janeiro e não em Nova York; porque falo português e não inglês; porque, ouvindo 15 música popular, sei distinguir imediatamente um frevo de um samba; porque futebol para mim é um jogo que se pratica com os pés e não com as mãos; porque vou à praia para ver e conversar com os amigos, ver as mulheres e tomar sol, jamais para praticar um esporte; porque sei que no carnaval trago à tona minhas fantasias sociais e sexuais; porque sei que não existe jamais um "não" diante de situações formais e que todas admitem um "jeitinho" pela relação pessoal e pela 20 amizade; porque entendo que ficar malandramente "em cima do muro" é algo honesto, necessário e prático no caso do meu sistema; porque acredito em santos católicos e também nos orixás africanos; porque sei que existe destino e, no entanto, tenho fé no estudo, na instrução e no futuro do Brasil; porque sou leal a meus amigos e nada posso negar a minha família; porque, finalmente, sei que tenho relações pessoais que não me deixam caminhar 25sozinho neste mundo, 25 como fazem os meus amigos americanos, que sempre se vêem e existem como indivíduos! Pois bem: somando esses traços, forma-se uma seqüência que permite dizer quem sou, em contraste com o que seria um americano, aqui definido pelas ausências ou negativas que a mesma lista efetivamente comporta. A construção de uma identidade social, então, como a construção de uma sociedade, é feita de afirmativas e de negativas diante de certas questões. Tome uma lista de tudo o que você considera importante - leis, idéias relativas a família, 30 casamento e sexualidade; dinheiro; poder político; religião e moralidade; artes; comida e prazer em geral - e com ela você poderá saber quem é quem.
1ª Questão: (1,0 ponto)
2ª Questão: (1,0 ponto)
3ª Questão: (1,0 ponto)
Quando eu era criança riscava com lápis de cor no azul desbotado do Atlântico o mapa dos dois continentes 5 que o andaluz empresário de mundos, Cristóvão Colombo, abriu como um cinema na escuridão do Mar da Noite. E assistia ao drama cinematográfico da América. Espetáculos de prodígio 10 assustavam minha imaginação: alvos ursos do Alasca, blocos de gelo macios, ensaiavam a vida lerda dos monstros polares. Focas grotescas, redondas e gordas, faziam concursos de natação 15 nas piscinas da Groenlândia saltando do trampolim dos penhascos para distrair a sisudez filosófica dos pingüins pensadores ... Via milionários canadenses, 20 do Ontário e da Alberta, domando com rédeas de cobre cavalos-vapores que se empinavam nas cachoeiras fazendo faiscar suas patas elétricas na disparada dos dínamos ... 25 No palco de Hollywood Rodolfo Valentino quebrava os olhos de sheick nas curvas das girls mais belas que a Ritinha a filha do coletor de Taquari, 30 a quem mandei meu coração numa carta como quem entrega a alma a satanás ... Via as chaminés de Chicago e Detroit; o fogo de artifício das noites de Broadway; negros do Alabama metidos numa vitrola 35 gritando jazz racial; a escalada babélica dos arranha-céus ensinando com letras de fogo o alfabeto às estrelas ... Saltos de potros fumegantes sob as chilenas dos cow-boys latinos, 40 bigodes postiços para cinema, petróleo, revoluções, generais escorrendo sangue por todas as medalhas na epopéia quotidiana dos fuzilamentos; nomes sonoros de Iturbide e Juárez, 45 truculentos de Carranza, no México das bravatas e heroísmos, o herdeiro de D. Quixote ! Como eu te amei, América pitoresca e trágica na tua violenta manhã 50 anunciada por caravelas, agitada por caudilhos libertários, por sotainas e capitães-generais ! Eras a caixa de um teatro onde o Senhor ensaiou o drama americano 55 inaugurando as experiências vitoriosas da nova civilização ! Em teu ventre gestou-se minha pátria - Brasil - essa noite verde que dormiu sob o pesadelo selvagem 60 das pocemas de guerreiros de bronze. O sol latino raiou na manhã lusitana sonora de arcabuzes e de prantos de guitarras e teu amante marinheiro, 65 filho do bacharel e de Paraguaçu, com pé bandeirante riscou as fronteiras da maior pátria americana. Depois os reis magos do universo vieram nos navios 70 ofertar-te as primícias de todas as raças e, como a hóstia feita com trigo de todos os celeiros, um povo forte e livre comungou a consciência da Pátria Nova !PICCHIA, Menotti del. Poesias.
4ª Questão: (1,0 ponto)
5ª Questão: (1,0 ponto)
Parece-me que o gênio de um poeta, em luta com a inspiração, devia arrancar do seio d'alma algum canto celeste, alguma harmonia original, nunca sonhada pela velha literatura de um velho mundo. Digo-o por mim: se algum dia fosse poeta, e quisesse cantar a minha terra e as suas 5 belezas, se quisesse compor um poema nacional, pediria a Deus que me fizesse esquecer por um momento as minhas idéias de homem civilizado. Filho da natureza embrenhar-me-ia por essas matas seculares; contemplaria as maravilhas de Deus , veria o sol erguer-se no seu mar de ouro, a lua deslizar-se no azul do céu; ouviria o murmúrio das ondas e o eco profundo e solene das florestas. 10 E se tudo isto não me inspirasse uma poesia nova, se não desse ao meu pensamento outros vôos que não esses adejos de uma musa clássica ou romântica, quebraria a minha pena com desespero, mas não a mancharia numa poesia menos digna de meu belo e nobre país. Brasil, minha pátria, por que com tantas riquezas que possuis em teu seio, não dás ao gênio de um dos teus filhos todo o reflexo de tua luz e de tua beleza ? Por que não lhe dás as 15 cores de tua paleta, a forma graciosa de tuas flores, a harmonia das auras da tarde ? Por que não arrancas das asas de um dos teus pássaros mais garridos a pena do poeta que deve cantar-te ?ALENCAR, José de. Cartas sobre a Confederação dos Tamoios.
6ª Questão: (1,0 ponto)
7ª Questão: (1,0 ponto)
8ª Questão: (1,0 ponto)
9ª Questão: (1,0 ponto)
10ª Questão: (1,0 ponto)
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