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VESTIBULAR UFF/1997 Língua Portuguesa e Literatura Brasileira - 1ª Etapa |
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O "brasil" com b minúsculo é apenas um objeto sem vida, autoconsciência ou pulsação interior, pedaço de coisa que morre e não tem a menor condição de se reproduzir como sistema; como, aliás, queriam alguns teóricos sociais do século XIX, que viam na terra - um pedaço perdido de Portugal e da Europa - um conjunto doentio e condenado de raças que, misturando-se ao sabor de uma natureza exuberante e de um clima tropical, estariam fadadas à degeneração e à morte biológica, psicológica e social. Mas o Brasil com B maiúsculo é algo muito mais complexo. É país, cultura, local geográfico, fronteira e território reconhecidos internacionalmente, e também casa, pedaço de chão calçado com o calor de nossos corpos, lar, memória e consciência de um lugar com o qual se tem uma ligação especial, única, totalmente sagrada. É igualmente um tempo singular cujos eventos são exclusivamente seus, e também temporalidade que pode ser acelerada na festa do carnaval; que pode ser detida na morte e na memória e que pode ser trazida de volta na boa recordação da saudade. Tempo e temporalidade de ritmos localizados e, assim, insubstituíveis. Sociedade onde pessoas seguem certos valores e julgam as ações humanas dentro de um padrão somente seu. Não se trata mais de algo inerte, mas de uma entidade viva, cheia de auto-reflexão e consciência: algo que se soma e se alarga para o futuro e para o passado, num movimento próprio que se chama História. Aqui, o Brasil é um ser parte conhecido e parte misterioso, como um grande e poderoso espírito. Como um Deus que está em todos os lugares e em nenhum, mas que também precisa dos homens para que possa se saber superior e onipotente. Onde quer que haja um brasileiro adulto, existe com ele o Brasil e, no entanto - tal como acontece com as divindades - será preciso produzir e provocar a sua manifestação para que se possa sentir sua concretude e seu poder. Caso contrário, sua presença é tão inefável como a do ar que se respira e dela não se teria consciência a não ser pela comparação, pelo contraste e pela percepção de algumas de suas manifestações mais contundentes.
01 Na sua distinção entre "brasil" e "Brasil", o autor do texto I estabelece contraste entre ambos.
(A) brasil um pedaço perdido de Portugal e da Europa / Brasil um conjunto doentio e condenado de raças
(B) brasil sociedade onde as pessoas seguem certos valores / Brasil entidade viva, cheia de auto-reflexão e consciência
(C) brasil país com fronteira e território reconhecidos internacionalmente / Brasil local com que os brasileiros têm uma ligação especial
(D) brasil objeto sem autoconsciência ou pulsação interior / Brasil memória e consciência de um lugar especial para os brasileiros
(E) brasil um processo histórico contínuo / Brasil uma forma sem vida
02 "Onde quer que haja um brasileiro adulto, existe com ele o Brasil e, no entanto tal como acontece com as divindades será preciso produzir e provocar a sua manifestação para que se possa sentir sua concretude e seu poder." (linhas 36-41)
(A) reflexão complementar, à margem do que se afirma
(B) oração intercalada com verbo declarativo
(C) oração, indicando mudança de interlocutor
(D) final de um enunciado, enfaticamente
(E) termos ou expressões não usuais
03 Assinale a opção que não apresenta relações de comparação, que estejam lingüisticamente marcadas por conectivos comparativos:
(A) "Como um Deus que está em todos os lugares e em nenhum, mas que também precisa dos homens para que possa se saber superior e onipotente." (linhas 33-36)
(B) "É igualmente um tempo singular cujos eventos são exclusivamente seus, e também temporalidade que pode ser acelerada na festa do carnaval" (linhas 18-21)
(C) "Aqui, o Brasil é um ser parte conhecido e parte misterioso, como um grande e poderoso espírito." (linhas 31-33)
(D) "Onde quer que haja um brasileiro adulto, existe com ele o Brasil e, no entanto tal como acontece com as divindades será preciso produzir e provocar a sua manifestação para que se possa sentir sua concretude e seu poder." (linhas 36-41)
(E) "Caso contrário, sua presença é tão inefável como a do ar que se respira e dela não se teria consciência a não ser pela comparação, pelo contraste e pela percepção de algumas de suas manifestações mais contundentes." (linhas 41-45)
04 As três orações adjetivas transcritas abaixo funcionam como adjunto adnominal:
O substantivo a que estas orações se referem é:
(A) recordação
(B) festa
(C) memória
(D) sociedade
(E) temporalidade
05 O emprego do pronome se, algumas vezes, segue a modulação da frase oral coloquial, fugindo à rigidez da norma culta escrita. Este procedimento, aliás, revela uma das características lingüísticas do Modernismo.
(A) "sua presença é tão inefável como a do ar que se respira"(linhas 41-42)
(B) "Não se trata mais de algo inerte" (linha 27)
(C) "mas que também precisa dos homens para que possa se saber superior e onipotente." (linhas 34-36)
(D) "e dela não se teria consciência a não ser pela comparação" (linhas 42-43)
(E) "para que se possa sentir sua concretude e seu poder." (linhas 40-41)
06 "Não se trata mais de algo inerte, mas de uma entidade viva, cheia de auto-reflexão e consciência: algo que se soma e se alarga para o futuro e para o passado, num movimento próprio que se chama História." (linhas 27-31)
(A) campo semântico e classe de palavra
(B) ortografia e divisão silábica
(C) classe de palavra e processo de formação de palavra
(D) campo semântico e divisão silábica
(E) divisão silábica e uso estilístico
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o sabiá;
As aves que aqui gorjeiam,
Não gorjeiam como lá.
Nosso céu tem mais estrelas,
Nossas várzeas têm mais flores,
Nossos bosques têm mais vida,
Nossa vida mais amores.
Em cismar, sozinho, à noite,
Mais prazer encontro eu lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o sabiá;
Minha terra tem primores,
Que tais não encontro eu cá;
Em cismar sozinho , à noite
Mais prazer encontro eu lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o sabiá.
Não permita Deus que eu morra,
Sem que eu volte para lá;
Sem que desfrute os primores
Que não encontro por cá;
Sem qu'inda aviste as palmeiras
Onde canta o sabiá.
PAIVA, Miguel & SCHWARCZ, Lilia.
Da colônia ao Império. Um Brasil para inglês ver....
São Paulo: Brasiliense, 1987, p. 11
07 Nos textos II e III, há um distanciamento da terra natal.
(A) No texto III, há a referência à chegada do colonizador, à miscigenação do branco com o negro e à exploração da terra.
(B) No texto III, os elementos caracterizadores da terra natal se encontram na expressão lingüística, nos trajes e no meio de transporte.
(C) As terras natais do personagem do texto III e do eu-lírico do texto II são diferentes.
(D) Nos textos II e III, há o reconhecimento de que a terra estrangeira é pródiga e prazerosa.
(E) A terceira estrofe do texto II e a última oração do texto III traduzem sentimentos distintos.
08 Quando escreveu a Canção do exílio, em 1841, Gonçalves Dias estava em Portugal.
(A) O pronome mais é empregado sempre para valorizar as coisas do Brasil, em relação às de Portugal.
(B) O eu-lírico sente-se como se estivesse exilado, com saudades da pátria.
(C) O advérbio cá refere-se ao Brasil.
(D) Os advérbios lá e aqui referem-se, respecti-vamente, ao Brasil e a Portugal.
(E) O poema é estruturado através de compa-rações entre o Brasil e Portugal.
09 O poema Canção do exílio é um dos mais famosos da literatura brasileira. Por isso mesmo, muitos outros poemas posteriores referem-se, diretamente, a ele.
(A) "Minha terra tem palmares / onde gorjeia o mar / os passarinhos daqui / não cantam como os de lá." (Oswald de Andrade)
(B) "Eu tão esquecido de minha terra... / Ai terra que tem palmeiras / onde canta o sabiá!" (Carlos Drummond de Andrade)
(C) "Minha terra tem macieiras da Califórnia / onde cantam gaturamos de Veneza." (Murilo Mendes)
(D) "A terra é mui graciosa, / tão fértil eu nunca vi." (Murilo Mendes)
(E) "Se eu tenho de morrer na flor dos anos, / Meu Deus! não seja já; / Eu quero ouvir na laranjeira, à tarde, / Cantar o sabiá!" (Casimiro de Abreu)
10Miguel Paiva e Lilia Moritz Schwarcz retomam, de forma crítica, o processo de colonização do Brasil.
(A) "Tem palmeiras, sabiás"
(B) "Ai Jesus que beleza nessa terra tudo dá!"
(C) "Ouro muito ouro e produtos tropicais"
(D) "Mulatas à vontade, ai Jesus que perdição"
(E) "Vou viver de exportação"
11 A poética da expressão do eu, do subjeti-vismo, do individualismo exacerbado é marcante na literatura brasileira em certo período do século XIX.
(A) "Gosto de meditar de dia, às vezes, / como o ancião" (Junqueira Freire)
(B) "Oh! Vem depressa, minha vida foge... / Sou como o lírio que já murcho cai!" (Casimiro de Abreu)
(C) "Se vario no verso e idéias mudo / É que assim me desliza a fantasia" (Álvares de Azevedo)
(D) "Eu creio, amigo, que a existência inteira / É um mistério talvez" (Álvares de Azevedo)
(E) "A humanidade marcha com a Bíblia por bandeira; / São livres os escravos... " (Castro Alves)
BARRETO, Lima. Triste fim de Policarpo Quaresma.
In: Três Romances. Rio de Janeiro: Garnier, 1990, p. 17-18
12 A valorização do nacional, expressa no poema de Gonçalves Dias (texto II) e nas idéias de Quaresma (texto IV), é uma característica presente nos seguintes períodos literários:
(A) Simbolismo e Modernismo
(B) Arcadismo e Romantismo
(C) Realismo e Simbolismo
(D) Romantismo e Modernismo
(E) Barroco e Arcadismo
13 Assinale a alternativa que não corresponde ao primeiro parágrafo do texto IV:
(A) No segundo período, há uma enumeração, na qual cada um dos elementos enumerados se inicia com um advérbio de negação .
(B) No segundo período, os regionalismos são valorizados em detrimento do nacionalismo, valorizado no primeiro período.
(C) No segundo período, a expressão "tudo isso junto, fundido, reunido" resume os elementos anteriormente enumerados.
(D) No segundo período, a expressão "sob a bandeira do Cruzeiro" designa a pátria de Quaresma.
(E) No segundo período, o segmento "Não tinha predileção por esta ou aquela parte de seu país" amplia o argumento do período anterior.
14 "Para isso ia até ao crime de amputar alguns quilômetros ao Nilo e era com este rival do "seu" rio que ele mais implicava." (linhas 31 - 33)
(A) Defender a proeminência do Amazonas sobre todos os demais rios do mundo.
(B) Saber o valor do ouro, dos diamantes exportados por Minas.
(C) Saber as nascentes e o curso de todos os rios.
(D) Saber as espécies de minerais, vegetais e animais, que o Brasil continha.
(E) Amputar alguns quilômetros ao Nilo.
15 Assinale a alternativa em que a palavra sublinhada apresenta um sufixo formador de substantivo a partir de adjetivo:
(A) "sabia o valor do ouro, dos diamantes exportados por Minas" (linha 26)
(B) "era tudo isso junto, fundido, reunido, sob a bandeira estrelada do Cruzeiro." (linha 11)
(C) "procurou a administração e dos seus ramos escolheu o militar" (linha 19)
(D) "O ministério era liberal, ele se fez conservador" (linha 16)
(E) "não era a beleza da Guanabara" (linha 8)
16 Assinale a alternativa que apresenta sentido semelhante ao da seguinte frase:
(A) Desgostou-se, sofreu, ao não maldizer a pá-tria.
(B) Desgostou-se, sofreu, quando não maldisse a pátria.
(C) Desgostou-se, sofreu, embora não maldisses-se a pátria.
(D) Desgostou-se, sofreu, logo não maldisse a pátria.
(E) Desgostou-se, sofreu, por não maldizer a pátria.
17 Há pronomes que possuem função anafórica, isto é, retomam elementos anteriormente expressos, construindo a coesão textual. Outros, no entanto, apenas apontam para os substantivos, sem retomá-los.
(A) "procurou a administração e dos seus ramos escolheu o militar." (linha 20)
(B) "quando se discutia a extensão do Amazonas em face da do Nilo." (linha 36)
(C) "mas a junta de saúde julgou-o incapaz." (linha 14)
(D) "Quaresma sabia as espécies de minerais, vegetais e animais que o Brasil continha" (linha 25)
(E) "ia ao crime de amputar alguns quilômetros ao Nilo" (linha 31)
18 No primeiro parágrafo do texto IV, o predomínio do emprego do pretérito imperfeito do indicativo tem como justificativa:
(A) Enfatizar a suposição de fatos narrados no passado.
(B) Situar vagamente no tempo ações de contos e lendas.
(C) Enumerar fatos em contínua realização na linha do passado para o presente.
(D) Expressar, sob a perspectiva do presente, fatos passados não habituais.
(E) Marcar que fatos aconteceram antes de outros já passados.
19 No final do romance Triste fim de Policarpo Quaresma, o personagem Quaresma adota uma postura crítica em relação ao nacionalismo que ele adotara no texto IV.
(A) "Nada de ambições políticas ou administra-tivas; o que Quaresma pensou, ou melhor: o que o patriotismo o fez pensar, foi um conhecimento inteiro do Brasil, (...) para depois então apontar os remédios, as medidas progressivas, com pleno conhecimento de causa."
(B) "E o que não deixara de ver, de gozar, fruir, na sua vida? Tudo. Não brincara, não pandegara, não amara todo esse lado da existência que parece fugir um pouco à sua tristeza necessária, ele não vira, ele não provara, ele não experimentara."
(C) "É preconceito supor-se que todo esse lado da existência que parece fugir um pouco à sua tristeza necessária, ele não vira, ele não provara, ele não experimentara."
(D) "A pátria que quisera ter era um mito; era um fantasma criado por ele no silêncio de seu gabinete. Nem a física, nem a moral, nem a intelectual, nem a política que julgava existir, havia."
(E) "Policarpo era patriota. Desde moço, aí pelos vinte anos, o amor da pátria tomou-o todo inteiro."
20 É correto afirmar que:
(A) Os textos I, II, III e IV apresentam o Brasil através de uma visão exclusivamente ufanista.
(B) O texto I trata de identidade nacional do Brasil e os textos II e IV exaltam o sentimento de nacionalismo.
(C) Os textos II, III e IV destacam a natureza brasileira e o texto I desvaloriza aspectos culturais.
(D) O texto III exalta a beleza da terra e de sua gente e os textos I e II insistem notadamente na exuberância da natureza brasileira.
(E) Os textos I, II, III e IV fazem uma leitura crítica da História brasileira com especial destaque para aspectos sociológicos.