ODONTOLOGIA

Perspectiva de trabalho vai além do consultório

O sonho do consultório particular já não é mais o único entre os alunos de Odontologia, embora ainda esteja presente pelo prestígio que implica. Afinal, qual cirurgião-dentista nunca se imaginou de roupa branca, numa sala com equipamentos modernos, recebendo clientes que o chamam de doutor? Mas como essa visão está cada vez mais distante, os futuros dentistas buscam alternativas.

- Todo mundo sonha com o consultório, mas hoje é difícil montar um, porque o custo é muito alto", explica Sandro Roberto Martins Ferreira, 24 anos, aluno do 9º período. Fica claro que o consultório particular perdeu o posto privilegiado quando o assunto gira em torno da perspectiva de trabalho para o profissional. "O dentista pode prestar concursos públicos, trabalhar em empresas, hospitais, fazer pesquisas. Eu, por exemplo, quero fazer concursos", afirma Tatiana Siqueira Paes, 20 anos, estudante do 3º período.

Bárbara de Carvalho Ramos, 23 anos, aluna do 9º período, concorda: "Eu pretendo prestar concurso, porque tem a vantagem da estabilidade do emprego".

Tradicionalmente, a Odontologia sempre esteve voltada para o campo privado, que oferecia amplas possibilidades profissionais. Os anos 80 marcaram o crescimento de escolas particulares e, portanto, das vagas. Hoje formam-se no Brasil mais de 10 mil dentistas por ano. "Este número é um absurdo em termos de mercado, já que a quantidade de profissionais que entram nele é maior do que a quantidade que sai", explica o professor Luiz Carlos Hubner Moreira, ex-aluno da UFF e coordenador do Programa Saúde da Família da Prefeitura de Niterói.

De acordo com o professor Luiz Hubner, do Instituto de Saúde da Comunidade, a demanda da população com recursos para pagar um tratamento dentário não cresceu. "Isso não quer dizer que haja excesso de dentistas para o total da população, mas sim que há dentistas em excesso para o total da população que pode pagar pelo serviço".

O coordenador do curso de Odontologia, Alexandre de Lima Barcellos, acredita que as condições de vida dos alunos influenciam a escolha da área de atuação. "Nossos alunos, muitas vezes, fazem o curso com dificuldades. Uma pesquisa detectou que os pais, em sua maioria, não pertencem às camadas mais ricas. Por isso, dificilmente eles vão poder montar uma sala para seu filho, com o equipamento completo. Então o aluno que se forma provavelmente não vai poder atuar em consultório particular, a não ser que seja filho ou neto de dentistas. A tendência, portanto, é o concurso público, porque é a primeira oportunidade que aparece. Nossos alunos procuram muito os concursos e geralmente são bem sucedidos", afirma.

Os pais do dentista José Maria Pimentel, 53 anos, eram pequenos agricultores no Espírito Santo. Queriam que o filho se formasse e não tinham dinheiro para pagar uma faculdade. José Pimentel formou-se na UFF há 30 anos. Desde então, trabalha em dois consultórios, no centro de Duque de Caxias, e outro no Largo do Machado, em Laranjeiras. "Ainda hoje as possibilidades de se alugar um consultório ou comprar um usado em boas condições são grandes, mas é preciso batalhar muito no início para se manter, porque a concorrência hoje é bem maior que antigamente. Essa crença de que a Odontologia vai render já no começo vem de muito tempo. A classe média incentivou seus filhos a seguirem carreira e comprou consultórios novos, mas muitos não conseguem mantê-lo e acabam fechando", completa Pimentel.

Atualmente, o curso de Odontologia oferece 80 vagas, distribuídas em dois semestres (40 em cada um). O curso é dividido em dois ciclos - básico e profissional - que podem ser completados em nove semestres, no mínimo, e em 18, no máximo. O ciclo básico, concentrado em sua maior parte no Instituto Biomédico, engloba os primeiros quatro períodos. O ciclo profissional, a partir do 5º período, divide-se entre as salas de aula e as cinco clínicas da Faculdade de Odontologia, no campus do Valonguinho.

O objetivo das clínicas é proporcionar ao estudante o contato com pacientes que tenham reais necessidades de atendimento. Quem deseja receber tratamento odontológico na faculdade é cadastrado e encaminhado a uma das clínicas, de acordo com o tratamento. A faculdade oferece atendimento em diversas áreas, desde a próteses até a ortodontia.

A principal crítica ao currículo é a prevalência do aspecto técnico sobre o humano. Luiz Carlos Hubner resume o problema desta formação. "O professor Wolney Garrafa, da Universidade de Brasília, diz que a Odontologia brasileira é tecnicamente elogiável, mas socialmente caótica. Há uma gama enorme de profissionais, uma odontologia muito elogiada, só que meramente técnica, reparadora de seqüelas. Paralelamente a isso, o Brasil tem um dos piores indicadores de saúde bucal e prevalência de doenças", explica o professor.

E acrescenta: "A gente nunca pode deixar de considerar o grande avanço em termos técnicos da Odontologia. Mas só que isso apenas não basta. A gente continua fazendo dente de porcelana para uma população que não tem dinheiro nem para a obturação. Não que não seja importante o dente de porcelana, mas isso é só para 10% da população. E os outros 90%?"

Uma comissão formada por professores estuda a reforma curricular do curso de Odontologia. Alguns traços gerais do perfil do profissional que se deseja formar já foram desenhados e guardam grande semelhança com as propostas estabelecidas em Medicina e em fase de debate no curso de Farmácia. "O enfoque passa pela necessidade de o aluno não ver só o aspecto tecnicista. O aluno tem de se preocupar com a relação dele com o paciente. É muito difícil passar isso, porque as relações humanas são complicadas. Ele tem de se tornar um profissional que atenda às pessoas sem distinção, mas ao mesmo tempo precisa de um retorno financeiro, porque passou um bom tempo estudando para ter competência", argumenta o coordenadordo curso.

Alexandre Barcellos revela que o novo currículo deverá levar em conta a incorporação do dentista ao Programa Saúde de Família, em Niterói. "O dentista de família é uma novidade e o currículo do nosso curso vai ser influenciado por ela. A Odontologia agora está ganhando esse corpo mais social, atingindo áreas maiores, mais públicas", completa.

Como o médico de família, o dentista de família também precisa ter uma visão coletiva, estabelecendo estratégias coerentes com o ambiente e as possibilidades de seus pacientes para promover a saúde bucal. "Antes de ele começar a fazer obturação, extração, deve pensar como é que ele vai promover a saúde da população com a qual trabalha, que estratégias para a prevenção das doenças ele pode apresentar aos seus pacientes. Depois que ele, de certa forma, frear a produção de doenças, passa então a cuidar do aspecto individual", o dentista e professor.

Apesar da necessidade de ajustar as demandas ao mercado de trabalho, o novo currículo não terá um caminho fácil pela frente. De acordo com o coordenador Alexandre Barcellos, ele implica transformações profundas. "É uma mudança na estrutura do curso. Simplesmente colocar no papel não é suficiente. Não adianta fazer isso se não houver uma conscientização do corpo docente e do corpo discente para a importância das modificações", argumenta.

Texto integrante da Revista Acesso UFF
(parte integrante do Kit Vestibular UFF 2003)

OBJETIVOS DO CURSO

O Curso forma profissionais capacitados para o atendimento das necessidades odontológicas, visando à prevenção e manutenção da saúde bucal do paciente. O Curso oferece estágio supervisionado obrigatório, tendo ainda o aluno a oportunidade de estágio extracurricular. As disciplinas básicas do Curso são desenvolvidas nas sete disciplinas clínicas especializadas e integradas da própria Faculdade.
TITULAÇÃO
Cirurgião-Dentista
DURAÇÃO
Mínima de 9 e máxima de 18 semestres

O QUE FAZ O PROFISSIONAL

Previne, diagnostica e trata das enfermidades bucais; limpa, extrai, obtura, restaura e implanta dentes; aplica flúor e pesquisa sobre medicamentos para cura e prevenção dos males orais; faz cirurgias para tratamento de dentes, maxilares e gengivas, tratando também de fraturas maxilares; trabalha em prótese dentária, radiologia oral e aplica aparelhos para corrigir desvios de dentes; realiza perícias odonto-legais; participa de atividades em Saúde Pública; leciona no ensino médio (com complementação pedagógica) e no superior.

ONDE ATUA

Em consultórios particulares, clínicas, hospitais, escolas, serviços de saúde, empresas, institutos de previdência social, órgãos policiais e judiciais, serviço público, instituições de pesquisa e de ensino (magistério).

ONDE SE LOCALIZA A COORDENAÇÃO DE CURSO

Faculdade de Odontologia
Campus do Valonguinho – Centro – 24020-150 – Niterói – RJ – Tel.: (21) 2620-1055 -
mgo@vm.uff.br

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